quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

The Help: Changes begins with a whisper.

Creio que nunca assisti uma obra tão visceral quanto “The Help”, do diretor Tate Taylor. Por diversas vezes senti aquele nó na garganta e os olhos empapados em lágrimas. Pouca coisa me sensibiliza tanto quanto demonstrações espúrias do quão vil e subumano pode ser a pequenez das pessoas, com gestos e ações segregadoras, diferenciando-nos pela cor da pele. Estou falando do recorte de um cenário de cinco décadas atrás, mas que – até hoje – manifesta-se das mais variadas formas. A trama se desenrola na década de 60, focando no ponto de vista das cuidadoras afro americanas que trabalhavam com famílias brancas; o ônus que carregavam pelo simples fato de nascerem negras.  

Às vezes evito assistir filmes com altos teores reflexivos/imersivos devido a premente necessidade de autoanálise. Quero apenas um momento de distração, alguns efeitos especiais bonitos e coisas do gênero. Mas é vital, de tempos em tempos, entrar em contato com o desconforto. Tal lembrança me remete ao texto do Theodor Adorno “Educação após Auschwitz” e seu pedido para que jamais percamos de vista nosso potencial destrutivo. É através desse árduo exercício, impingindo constrangimento, consternação, revolta, etc. que condutas dotadas de empatia e alteridade possam surgir ou serem fortalecidas.

Recomendo esse exercício de humanização.

The Help (2011)


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Tecnologia e idoneidade


Sou palmeirense, mas, acima de tudo, sou ser humano. E o que vi, ontem, foi mais um daqueles tristes capítulos em que a arbitragem exerce maior poder do que os principais protagonistas: os jogadores. Esse poder fora completamente desbalanceado, a ponto de prejudicar peremptoriamente apenas um time e a lisura do evento. Não marcou o pênalti na jogada com o Emerson, consequentemente não expulsou o jogador do Boca Juniors, já que ele tinha cartão amarelo e colocou propositadamente a mão na bola a fim de mudar a trajetória da mesma, e, de quebra, ainda deu cartão amarelo ao jogador do Corinthians, que reclamava com toda a justiça. Não contente, a arbitragem marcou incorretamente um impedimento do Romarinho que, sem saber que estava impedido (e não estava), deu continuidade a jogada marcando o gol. No segundo tempo teve um lance absolutamente contestável: marcando falta no goleiro argentino onde não vi nada, impedindo mais um gol dos brasileiros.

As falhas foram tão acintosas que, mais uma vez me pergunto se não vale a pena a utilização de tecnologia a fim de trazermos maior idoneidade ao esporte. Algumas modalidades já abraçaram a tendência (futebol americano, tênis, dentre muitos outros) e o que vimos é a possibilidade de corrigirmos diversas injustiças que ocorrem na seara esportiva. No tênis, por exemplo, existe o desafio intitulado de Hawk Eye, presente nas principais competições. O tenista tem uma quantidade finita de desafios, podendo utiliza-los toda vez que contestar a marcação do juiz (se ele estiver correto, continua com o desafio). Isso, diferente da opinião de muitos conservadores, trouxe até mais emoção ao evento, virando um espetáculo a parte, contando com participação da torcida e tudo mais.
   
Esse papinho anacrônico que os erros “fazem parte do esporte” é deveras contestável. As regras são mutáveis, evoluíram ao longo dos anos (impedimento, trajes, materiais, etc.). A tecnologia já beneficia o esporte, ou ainda jogaríamos com bolas de couro que pesavam toneladas. Não entrarei no mérito de quantificar – ao longo do tempo – quem foi mais prejudicado ou beneficiado com os erros de arbitragem. Nem contestarei a honestidade dos mesmos. Apenas saliento que desvaloriza o espetáculo e gera uma súbita mudança de foco. Deixamos a discussão do futebol de lado e adentramos numa esfera muito mais imbricada: a da moral.

Meu sentimento de consternação aos corintianos, que não mereciam perder dessa forma. E meus parabéns ao apoio demonstrado ao time após o ensejo. Mais de dez minutos após o encerramento da partida cantando e reconhecendo o esforço dos jogadores. Foi uma bela demonstração de carinho.


terça-feira, 14 de maio de 2013

O Eu e o Outro


A última vez que escrevi aqui foi no dia 8 de Março de 2013. Mantenho a filosofia que me motivara a criar esse blog: apenas compartilhar algo quando sentir-me naturalmente mobilizado. Eis que ocorrera um fato que merece menção pelo efusivo simbolismo propagado. Um casal (namorados), amigos em comum de uma pessoa que muito estimo, veio de Petrolina a fim de assistir o show do Arnaldo Antunes, em Vitória da Conquista. Fiz questão de busca-los no aeroporto e leva-los ao hotel que fica na mesma praça onde aconteceu o Festival da Juventude, ensejo capitaneado pela apresentação do artista referido. Despedi-me deles sem a pronta certeza de que os encontraria mais tarde no show. Mas depois que recebi algumas mensagens denotando empolgação com o evento, me animei e parti ao encontro do casal.

A praça estava lotada, mas não foi difícil encontra-los. Nunca tinha assistido a um show do Arnaldo Antunes e confesso que gostei bastante. Simpaticíssimo e atencioso com o público. O casal – que estava um pouco à frente de mim – não deve ter achado que me diverti muito, pois fiquei a maior parte do tempo parado, olhando para o palco. Conhecia parcamente algumas músicas, mas nem dava pra balbuciar. Como estávamos bem à frente do palco, minha pose de estatua contrastava com gritos, pulos e xingamentos diversos dos fãs inveterados!

A parte mais relevante da noite estava por vir. Antes de tocar uma música, que não lembro o nome, Arnaldo dedicou-a a um casal que estaria – naquele momento – propondo casamento. Para minha grata surpresa eram eles! Ele estendeu a mão e agradeceu, ouvindo as felicitações do público e do artista. Era uma surpresa dele a ela. Foi emocionante, senti uma energia legal fluindo, tanto das pessoas que estavam no entorno e, principalmente, deles. Beijaram-se apaixonados e codifiquei algumas mensagens veladas nesse momento: a crença em algo mais relevante: um relacionamento verdadeiro. A preocupação com as minucias, com o desejo de surpreender e fazer o bem a outrem. A sutileza de mostrar que por mais que estejamos vivendo um período de insensibilização sistemática, há demonstrações genuínas de amor e de cumplicidade. Uma renúncia da liberdade que a "solteirice" lhe oferece, abraçando outra espécie de liberdade. O sentir-se livre para amar e se desvencilhar das amarras do egocentrismo.

Fui assolado por uma inveja e um desejo pululava no meu imaginário: “também quero viver isso!”.  Mas é o que muitos fazem, não é mesmo? Angustiados com o desejo de “querer também” acabam artificializando sensações e sentimentos. Casam e seis meses depois se indagam: “que diabos estamos fazendo juntos?!”. Não sei qual é a conduta adequada para lidar com essa auto cobrança. Mas sei que sentimentos ansiogênicos são aliados das futuras desventuras. Talvez colocar como prioridade de vida a busca dessa pessoa seja o grande problema. Negligenciam-se outras searas relevantes e alimentam-se da carência do ser faltante. Fragiliza-se o corpo, o espírito e o que sobra é um ser carcomido, faminto pelo eu amado.

E como lidar com esse tipo de demanda? A resposta é simples: não faço a mínima ideia. Repudio toda e qualquer formula mágica. A receita do sucesso. Somos complexos e variados demais para seguir regras universais de fenômenos tão intrínsecos e idiossincráticos. Mas, independentemente do caminho a seguir (e são infinitas as possibilidades), desconfio que seja importante desenvolver duas virtudes basilares: empatia, capacidade de se colocar no lugar do outro; e alteridade, a capacidade de reconhecer a diferença como fenômeno legítimo. 

Talvez o grande desafio seja o equilíbrio entre o olhar para si mesmo e o reconhecimento do outro, não como elemento que lhe completará, apenas como um outro.  





sexta-feira, 8 de março de 2013

Os 365 dias das mulheres


Não sou muito fã de datas específicas intuindo reconhecimentos específicos. Exemplificarei no hoje: dia internacional da mulher; e farei algumas inferências acerca dessa temática. Muitos agressores de mulheres sentem-se apiedados por esse momento para reconhecer –mesmo que infimamente – o inefável valor que a mulher tem na sociedade. Essa lógica serve para qualquer data. Antítese e tese se enamoram, mas passam os outros 364 dias do ano separadas. Sem contar a relação promíscua das datas com uma lógica mercadológica. Sim, muitos dias de alguma coisa são remanejados a fim de “aquecer” a economia.

Outra coisa deveras intrigante é a ferrenha luta de parte do multiverso feminino na incessante busca de uma isonomia dos sexos. Por mais que eu faça exercícios diários na tentativa de me desvencilhar dos preconceitos diversos, de ideias preconcebidas, do “ranço” cultural, esse movimento sempre me deixa reflexivo: pra que diabos a busca pela isonomia se elas normalmente são superiores diante de um sexo tão frágil (os homens)? Vocês costumam (ou costumavam?) ser mais sensíveis (e essa é a maior de todas as inteligências), charmosas e corajosas do que nós. Sem mencionar que jamais existirá uma equidade. Vocês são mulheres - possuidoras de um aparato reprodutor bem mais desenvolvido que o nosso! - Pra ficar apenas em um exemplo biofisiológico. Nós somos homens! Seres que ainda se confundem todo na escala evolutiva (a volúpia epidêmica/promiscua é a prova inconteste!).

Mantendo meu ceticismo, considero o maior tiro no pé de suas digressões: uma agressiva tentativa de masculinização das suas condutas. Coisas que são tão (im) próprias do mundo dos homens: promiscuidade desmesurada, embriaguês desenfreada, reificação dos relacionamentos, têm sido abraçadas por um grande contingente feminino como forma de “rivalizar” com as condutas da “macharada”.

Como representante desse universo falho, fico na torcida para que optem por melhores formas de lidar com os efeitos advindos de cá. A isonomia é um retrocesso desnecessário! Ou seria uma maneira de apiedar-se dos fracos? Um estudo etnográfico? Vivendo como um homem?

Minha necessária reverência às mulheres. Hoje e sempre!       

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Roleta Russa


Quando sou assolado por algo deveras tortuoso como a morte de um ente próximo, ou próximo dos nossos próximos, costumo pensar acerca da trivialidade da vida e do quão frágil somos diante da mais poderosa certeza que nos cerca. A inquietação torna-se maior quando – involuntariamente – estamos sobre o efeito de uma teleologia mórbida nos questionando quem será o próximo. Duas coisas normalmente vêm à tona ao imergir nesses pensamentos:

1 – Gostaria de ser o primeiro a perecer, pois não precisaria passar pelo sofrimento de sentir parte de mim adentrando numa dimensão desconhecida, sentir o aroma da morte cerceando meu mundo, meus amigos;

2 – Uma hierarquização dos que poderão partir antes de mim, o porquê dessas constatações e a pronta certeza que esse é um exercício prementemente inócuo;

Uma frase, certa vez, me sensibilizou, convidando-me a pensar diferente. Atacava meu egoísmo de querer ser o primeiro, da fuga de um necessário sofrimento. A frase dizia que o amor verdadeiro era aquele que andava de mãos dadas com a abnegação, permitindo a partida de todos, deixando-te como o responsável à apagar as luzes. A justificativa tornavam as coisas ainda mais simples: antes eu passando por todas essas dores do que eles. Os demais não precisariam passar pelo tortuoso cotidiano da falta, da saudade excruciante...

Senti-me estimulado a flertar com essas reflexões após ter sido vítima – mais uma vez! - de uma tentativa de assalto quando retornava a Vitoria da Conquista. Quatro homens em duas motos surgiram de uma estrada secundária e tentaram incessantemente fazer com que eu parasse o carro. Depois que vi o semblante de um dos assaltantes da moto que se encontrava a minha frente, tive a pronta certeza de que faria qualquer coisa, menos ceder à pressão dos mesmos. A frieza no olhar daquele homem foi o suficiente para fazer com que eu utilizasse toda pericia automobilística aprendida a fim de subir os seis quilômetros da serra do marçal – que é extremamente sinuosa e perigosa – a mais de 100 km/h. Algumas vezes abaixava a cabeça com receio de ser alvejado por algum projetil. Ao final da serra, já havia colocado boa distância dos perseguidores, parei no posto da polícia rodoviária federal e informei do ocorrido. O profissionalismo dos policiais me chamou atenção: “Por que você não passou por cima deles?!” inquirira uma policial exaltada; seu parceiro, que me olhava com aparência de que tomaria uma medida mais producente, simplesmente continuo a me olhar sem balbuciar um som que fosse. Ouvi comentários de algumas pessoas que estavam sentadas próximas à guarita exaltando a fuga e resolvi concluir a viagem.

Ciclicamente sou alvo de investidas indigestas como a que acabei de ilustrar. O que me convida a pensar num desfecho traumático para essa vida ansiosa de novas conquistas e realizações. Mas prefiro direcionar atentar para as coisas que estão na minha esfera de poder e acreditar levianamente no comentário gracejado de um amigo “[...] os caras devem achar que você é um turista japonês indefeso...”. 



terça-feira, 25 de setembro de 2012

A Escolástica da Hodiernidade


Há tempos não escrevo algo. Confesso que deve-se a uma simples e inconteste negligência. Sou um crítico ferrenho de toda e qualquer justificativa em que subjaz a célebre frase: “Não tenho tempo”. Somos adaptáveis demais para acreditarmos em justificativa tão pífia. Normalmente os que menos – nesta lógica contestável - têm tempo, são os que menos atribuem ao mesmo algum tipo de responsabilidade. De vilão a aliado. Por gozarem de muitas atribuições, conseguem valorizá-lo de maneira deveras salutar, aproveitando cada momento de maneira muito mais intensa e prazerosa do que aqueles que ficam sobre o efeito da falta de alguma coisa.

Esta justificativa de escassez de tempo torna-se de uma incontestável periculosidade quando constatamos, cada vez mais, o distanciamento dos pais para com seus filhos. A grande força motivadora desse post refere-se a uma cena que presenciara quando adentrei numa escola particular de ensino fundamental a fim de conversar com uma turma de oitavo ano; a temática referia-se aos complicados processos de escolha; conversaria também sobre o curso de Psicologia: exemplos de atuações e desafios vindouros. A instituição apresenta um projeto pedagógico atrelado a valores que prezam o desenvolvimento moral, espiritual e intelectual. Na própria escola, há a moradia de algumas freiras. E uma, em especial, faz questão de – todos os dias – recepcionar, no portão de entrada, todas as pessoas que cruzam o seu caminho. Depois de receber um abraço afetuoso da mesma, presenciei uma criança entrando atabalhoadamente, esbarrando-se na freira, evitando seus comprimentos e adentrando rapidamente na escola. Percebi um olhar de consternação da simpática senhora acompanhando o afastamento da criança. Uma conjectura sobre o que poderia estar passando pela sua cabeça emergiu: “Proteja essa alma, Deus. Pois ela precisará muito de seu apoio!”.

Uma semana antes visitei a escola a fim de tentar (ênfase no “tentar”) conversar com a turma – considerada por todos os professores e coordenadores – mais irascível, temperamental e desrespeitosa da instituição. De fato, devo ter apresentado 5 % do que gostaria. Mais relevante do que apresentar o que havia planejado foi a oportunidade de observa-los de maneira bem natural. Assim que as duas turmas de quinto ano chegaram, uma garotinha que sentara bem próximo a mim comentou: “Desculpa, mas você não conseguirá apresentar”. Questionada, não titubeou: “Porque somos muito bagunceiros! De qualquer forma, boa sorte!”. Dentre as observações de algumas coisas importantes, a mais relevante referia-se a algumas falas consoantes acerca da distância dos pais no dia a dia dos pimpolhos. “Vejo muito pouco meus pais”;  “eles não têm muita paciência”, "Meus pais não tem tempo pra mim". Após duas repreensões dos professores e diversos pedidos de desculpas, estampando um profundo constrangimento devido aos comportamentos de seus alunos, conversava com a diretora e ela relatara a difícil missão da instituição devido a grande negligência de muitos pais, absolutamente ausentes no processo de ensino aprendizagem. A escola encontra-se sobrecarregada, exercendo função de pai, mãe e de instituição de ensino. "A relação dos pais com a instituição se resume ao boletim. Se tiver alguma nota vermelha, eles se manifestam. Caso não tenha, eles nem aparecem na instituição". Uma relação complexa e rica resume-se a um apanhando de notas. Reflexo de uma sociedade narcisista que superestima o desempenho  técnico em detrimento das relações humanas. A boa convivência entre os semelhantes pode ser relegada a segundo plano desde que o filho seja "O" melhor. 

Quando tentava apresentar e fui impedido devido as conversas incessantes, não fiquei irritado. Passou um filme pela minha cabeça e recordei de como Salvador anda mal tratada; em muitos sentidos: político, relações interpessoais, etc. Pessoas intolerantes e imediatistas, relações tão desrespeitosas que um simples gesto de gentileza torna-se um verdadeiro oásis num deserto de intolerância e ensimesmamento. Quando olhei para as crianças, as mesmas que senti uma profunda empatia, cheguei a triste suposição de que elas serão a representação de tudo que acabara de pensar. A manutenção de uma sociedade intolerante, que não consegue pensar e se organizar de maneira coletiva, nem quando o resultado implica em benesses generalizadas.   

Voltando a cena da criança e da freira, nunca tive tanta vontade de ter um filho como depois do que presenciara. Num breve exercício teleológico, acredito piamente que meu filho desejaria bom dia a simpática senhora que lhe acolhera. 



sábado, 14 de julho de 2012

Jin Jang


Itapetinga, 14 de Julho, 11:09 da manhã. Mesmo completando 10 dias de desconfortantes dores na coluna, acordei com um profundo bom humor! Olha que fui tolhido de minha paixão suprema em se tratando de atividades esportivas, tênis. Fica pra próxima! 

Dentro de algumas horas adentrarei numa fenda dimensional e rumarei ao desconhecido. Uma minúscula cidade denominada Encruzilhada que ninguém sabe explicar o que devo fazer para encontra-la. Fora que “não desenvolveram esta tecnologia ainda...” não há ônibus! Tudo para reconhecer, estimular, prestar solidariedade a um grande amigo que tornara-se gerente do banco do brasil desse desconhecido local. Amigos, sem vocês não seria nem sombra do que sou. Ou seria a sombra? Com certeza seria uma representação menos virtuosa, mais alienada, quiçá um mero replicador do modus operandi hodierno, aquele da fuga, do não sentir. Ou uma incomensurável senso percepção culminando assim numa excruciante insensibilidade!  

Estou aqui hoje para exercer um insólito desejo de prospectar palavras, sentimentos e sensações de maneira, muitas vezes, desarticulada, um brainstorm que representa parte do que vivi nessas férias. Essas possuem um gosto diferente das demais. Uma necessária preparação espiritual para lidar com a maior decisão de minha vida pós-formatura. Enquanto não sei qual rumo tomarei, apresento – ulteriormente - uma digressão inspirada numa ótima conversa que tive com uma bela mulher que clama por uma necessária homeostase depois de findado um longevo relacionamento.


Absolutamente normal passar por uma avassaladora crise de abstinência. Você amadureceu como mulher se relacionando de maneira estável. Se adaptar é difícil demais! Principalmente quando se depara com um "mar de insensibilidade". A despreocupação consigo mesma e com os sentimentos de outrem beiraria a barbárie.

Mesmo tendo, guardada no meu coração, a sensação de estar namorando, de participar de um projeto que transcende a esfera do indivíduo, não consegui - ainda - me relacionar com alguma mulher que me sensibilizou a tal ponto.


Depois viera a constatação ululante. Ela, mesmo fragilizada, estimulava experiências que permitisse um contundente contato com a tristeza, com o sofrimento que passara diante da estranheza de não ter um referencial afetivo efetivo (com o perdão da eufonia!)

Que bom, sabia?! Vivemos numa sociedade assolapada por um imediatismo alienante. As pessoas não querem lidar com sofrimento, luto, tristeza... por isso que os relacionamentos estão cada vez mais fugazes. O medo de se deparar com uma frustração/decepção tem impedido o experiencialismo. E o que você está fazendo, ao ouvir músicas que remetem a essa sensação, é justamente respeitando e entrando em contato direto com o sofrimento. A adversidade é a antítese do aprimoramento. Você evolui como ser humano à medida que alterna entre momentos de euforia e disforia. Momentos tristes são importantes para reconhecer a felicidade, o êxtase. Sem isso nossa vida se tornará pasteurizada, estéril e sem graça!

Não pude deixar de me solidarizar com os relatos e tratei de me aprochegar no âmbito da incompletude. 

Algumas vezes sou surpreendido por uma profunda sensação de prostração, resignação. Uma tristeza contagiante. Quando identifico esses estados, trato de respeita-los. Fico em casa curtindo minha fossa, vendo um filme “mamão com açúcar”, ou algo do gênero. Sei que ela, da mesma forma que chegou, saíra se a relevância dada for na medida certa.

Não tento artificializar um comportamento. Sair pra balada e pegar todo mundo como uma maneira de enfatuação de ego não me parece – normalmente – uma boa opção. Isso faz com que nos distanciemos de nós mesmos. Nada contra quem curte baladas e pegações! Desde que essas pessoas saibam, também, respeitar a si próprias e a quem - por ventura - estiver envolvida.

Faz parte de um projeto de vida que resolvi abraçar: estimular amigos queridos e benquistos (É, estou bem eufônico hoje!) a lidar com seus próprios fantasmas. Não apenas eles, mas especialmente eles. Vivemos numa sociedade que clama pela extirpação do que considero a força motriz do desenvolvimento humano. É natural nos depararmos com propagandas (nos mais variados meios) que vituperam nosso bom senso, convidando-nos – cada vez mais – ao não sentir. O luto, a tristeza, a falta de atenção (momentânea e circunstancial), a introversão, a extroversão são considerados vilões e passíveis de repreensão num contexto sócio cultural que clama pela homogeneidade (alienação). E tal movimento (nefasto) é metonimicamente representado vide um medicamento: um psicofármaco, por exemplo. Uma pretensa pílula que traz em si a arrogância de uma sociedade que se desvencilha da salutar dialética inerente ao ser humano. Tornamo-nos viciados do prazer, do regozijo e repelimos peremptoriamente o dissabor. 

Relacionamentos sérios? Não, obrigado! Cedo ou tarde sofrerei! 

Meu ente querido morreu há dois meses e ainda estou triste. Isso não é normal! (não?!)

Para que meu post não assuma proporções bíblicas, terminarei com uma reflexão.  Uma sociedade viciada nas boas sensações não estaria entrando num ominoso processo de insensibilidade? O prazer e desprazer não existem dissociados. Prefiro acreditar que são como partículas de um mesmo elemento. Identificamos as boas sensações porque nos é apresentado à contramedida. Perdendo o contra referencial, não estaríamos entrando num periculoso momento de convite à barbárie e a amorfização do sujeito?