sábado, 14 de julho de 2012

Jin Jang


Itapetinga, 14 de Julho, 11:09 da manhã. Mesmo completando 10 dias de desconfortantes dores na coluna, acordei com um profundo bom humor! Olha que fui tolhido de minha paixão suprema em se tratando de atividades esportivas, tênis. Fica pra próxima! 

Dentro de algumas horas adentrarei numa fenda dimensional e rumarei ao desconhecido. Uma minúscula cidade denominada Encruzilhada que ninguém sabe explicar o que devo fazer para encontra-la. Fora que “não desenvolveram esta tecnologia ainda...” não há ônibus! Tudo para reconhecer, estimular, prestar solidariedade a um grande amigo que tornara-se gerente do banco do brasil desse desconhecido local. Amigos, sem vocês não seria nem sombra do que sou. Ou seria a sombra? Com certeza seria uma representação menos virtuosa, mais alienada, quiçá um mero replicador do modus operandi hodierno, aquele da fuga, do não sentir. Ou uma incomensurável senso percepção culminando assim numa excruciante insensibilidade!  

Estou aqui hoje para exercer um insólito desejo de prospectar palavras, sentimentos e sensações de maneira, muitas vezes, desarticulada, um brainstorm que representa parte do que vivi nessas férias. Essas possuem um gosto diferente das demais. Uma necessária preparação espiritual para lidar com a maior decisão de minha vida pós-formatura. Enquanto não sei qual rumo tomarei, apresento – ulteriormente - uma digressão inspirada numa ótima conversa que tive com uma bela mulher que clama por uma necessária homeostase depois de findado um longevo relacionamento.


Absolutamente normal passar por uma avassaladora crise de abstinência. Você amadureceu como mulher se relacionando de maneira estável. Se adaptar é difícil demais! Principalmente quando se depara com um "mar de insensibilidade". A despreocupação consigo mesma e com os sentimentos de outrem beiraria a barbárie.

Mesmo tendo, guardada no meu coração, a sensação de estar namorando, de participar de um projeto que transcende a esfera do indivíduo, não consegui - ainda - me relacionar com alguma mulher que me sensibilizou a tal ponto.


Depois viera a constatação ululante. Ela, mesmo fragilizada, estimulava experiências que permitisse um contundente contato com a tristeza, com o sofrimento que passara diante da estranheza de não ter um referencial afetivo efetivo (com o perdão da eufonia!)

Que bom, sabia?! Vivemos numa sociedade assolapada por um imediatismo alienante. As pessoas não querem lidar com sofrimento, luto, tristeza... por isso que os relacionamentos estão cada vez mais fugazes. O medo de se deparar com uma frustração/decepção tem impedido o experiencialismo. E o que você está fazendo, ao ouvir músicas que remetem a essa sensação, é justamente respeitando e entrando em contato direto com o sofrimento. A adversidade é a antítese do aprimoramento. Você evolui como ser humano à medida que alterna entre momentos de euforia e disforia. Momentos tristes são importantes para reconhecer a felicidade, o êxtase. Sem isso nossa vida se tornará pasteurizada, estéril e sem graça!

Não pude deixar de me solidarizar com os relatos e tratei de me aprochegar no âmbito da incompletude. 

Algumas vezes sou surpreendido por uma profunda sensação de prostração, resignação. Uma tristeza contagiante. Quando identifico esses estados, trato de respeita-los. Fico em casa curtindo minha fossa, vendo um filme “mamão com açúcar”, ou algo do gênero. Sei que ela, da mesma forma que chegou, saíra se a relevância dada for na medida certa.

Não tento artificializar um comportamento. Sair pra balada e pegar todo mundo como uma maneira de enfatuação de ego não me parece – normalmente – uma boa opção. Isso faz com que nos distanciemos de nós mesmos. Nada contra quem curte baladas e pegações! Desde que essas pessoas saibam, também, respeitar a si próprias e a quem - por ventura - estiver envolvida.

Faz parte de um projeto de vida que resolvi abraçar: estimular amigos queridos e benquistos (É, estou bem eufônico hoje!) a lidar com seus próprios fantasmas. Não apenas eles, mas especialmente eles. Vivemos numa sociedade que clama pela extirpação do que considero a força motriz do desenvolvimento humano. É natural nos depararmos com propagandas (nos mais variados meios) que vituperam nosso bom senso, convidando-nos – cada vez mais – ao não sentir. O luto, a tristeza, a falta de atenção (momentânea e circunstancial), a introversão, a extroversão são considerados vilões e passíveis de repreensão num contexto sócio cultural que clama pela homogeneidade (alienação). E tal movimento (nefasto) é metonimicamente representado vide um medicamento: um psicofármaco, por exemplo. Uma pretensa pílula que traz em si a arrogância de uma sociedade que se desvencilha da salutar dialética inerente ao ser humano. Tornamo-nos viciados do prazer, do regozijo e repelimos peremptoriamente o dissabor. 

Relacionamentos sérios? Não, obrigado! Cedo ou tarde sofrerei! 

Meu ente querido morreu há dois meses e ainda estou triste. Isso não é normal! (não?!)

Para que meu post não assuma proporções bíblicas, terminarei com uma reflexão.  Uma sociedade viciada nas boas sensações não estaria entrando num ominoso processo de insensibilidade? O prazer e desprazer não existem dissociados. Prefiro acreditar que são como partículas de um mesmo elemento. Identificamos as boas sensações porque nos é apresentado à contramedida. Perdendo o contra referencial, não estaríamos entrando num periculoso momento de convite à barbárie e a amorfização do sujeito?