A última vez que escrevi aqui foi
no dia 8 de Março de 2013. Mantenho a filosofia que me motivara a criar esse
blog: apenas compartilhar algo quando sentir-me naturalmente mobilizado. Eis
que ocorrera um fato que merece menção pelo efusivo simbolismo propagado. Um
casal (namorados), amigos em comum de uma pessoa que muito estimo, veio de
Petrolina a fim de assistir o show do Arnaldo Antunes, em Vitória da Conquista.
Fiz questão de busca-los no aeroporto e leva-los ao hotel que fica na mesma
praça onde aconteceu o Festival da Juventude, ensejo capitaneado pela apresentação
do artista referido. Despedi-me deles sem a pronta certeza de que os
encontraria mais tarde no show. Mas depois que recebi algumas mensagens denotando empolgação com o evento, me animei e parti ao encontro do casal.
A praça estava lotada, mas não
foi difícil encontra-los. Nunca tinha assistido a um show do Arnaldo Antunes e
confesso que gostei bastante. Simpaticíssimo e atencioso com o público. O casal
– que estava um pouco à frente de mim – não deve ter achado que me diverti muito,
pois fiquei a maior parte do tempo parado, olhando para o palco. Conhecia
parcamente algumas músicas, mas nem dava pra balbuciar. Como estávamos bem à
frente do palco, minha pose de estatua contrastava com gritos, pulos e
xingamentos diversos dos fãs inveterados!
A parte mais relevante da noite estava
por vir. Antes de tocar uma música, que não lembro o nome, Arnaldo dedicou-a a
um casal que estaria – naquele momento – propondo casamento. Para minha grata
surpresa eram eles! Ele estendeu a mão e agradeceu, ouvindo as felicitações do
público e do artista. Era uma surpresa dele a ela. Foi emocionante, senti uma
energia legal fluindo, tanto das pessoas que estavam no entorno e,
principalmente, deles. Beijaram-se apaixonados e codifiquei algumas mensagens
veladas nesse momento: a crença em algo mais relevante: um relacionamento
verdadeiro. A preocupação com as minucias, com o desejo de surpreender e fazer
o bem a outrem. A sutileza de mostrar que por mais que estejamos vivendo um
período de insensibilização sistemática, há demonstrações genuínas de amor e de
cumplicidade. Uma renúncia da liberdade que a "solteirice" lhe oferece, abraçando
outra espécie de liberdade. O sentir-se livre para amar e se desvencilhar das
amarras do egocentrismo.
Fui assolado por uma inveja e um
desejo pululava no meu imaginário: “também quero viver isso!”. Mas é o que muitos fazem, não é mesmo?
Angustiados com o desejo de “querer também” acabam artificializando sensações e
sentimentos. Casam e seis meses depois se indagam: “que diabos estamos fazendo
juntos?!”. Não sei qual é a conduta adequada para lidar com essa auto cobrança.
Mas sei que sentimentos ansiogênicos são aliados das futuras desventuras.
Talvez colocar como prioridade de vida a busca dessa pessoa seja o grande
problema. Negligenciam-se outras searas relevantes e alimentam-se da carência
do ser faltante. Fragiliza-se o corpo, o espírito e o que sobra é um ser carcomido,
faminto pelo eu amado.
E como lidar com esse tipo de
demanda? A resposta é simples: não faço a mínima ideia. Repudio toda e qualquer
formula mágica. A receita do sucesso. Somos complexos e variados demais para
seguir regras universais de fenômenos tão intrínsecos e idiossincráticos. Mas, independentemente
do caminho a seguir (e são infinitas as possibilidades), desconfio que seja importante
desenvolver duas virtudes basilares: empatia, capacidade de se colocar no lugar
do outro; e alteridade, a capacidade de reconhecer a diferença como fenômeno
legítimo.
Talvez o grande desafio seja o equilíbrio entre o olhar para si mesmo e o
reconhecimento do outro, não como elemento que lhe completará, apenas como um outro.
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