Creio que nunca assisti uma obra
tão visceral quanto “The Help”, do diretor Tate Taylor. Por diversas vezes
senti aquele nó na garganta e os olhos empapados em lágrimas. Pouca coisa me
sensibiliza tanto quanto demonstrações espúrias do quão vil e subumano pode ser
a pequenez das pessoas, com gestos e ações segregadoras, diferenciando-nos pela
cor da pele. Estou falando do recorte de um cenário de cinco décadas atrás, mas
que – até hoje – manifesta-se das mais variadas formas. A trama se desenrola na
década de 60, focando no ponto de vista das cuidadoras afro americanas que
trabalhavam com famílias brancas; o ônus que carregavam pelo simples fato de
nascerem negras.
Às vezes evito assistir filmes
com altos teores reflexivos/imersivos devido a premente necessidade de
autoanálise. Quero apenas um momento de distração, alguns efeitos especiais
bonitos e coisas do gênero. Mas é vital, de tempos em tempos, entrar em contato
com o desconforto. Tal lembrança me remete ao texto do Theodor Adorno “Educação
após Auschwitz” e seu pedido para que jamais percamos de vista nosso potencial
destrutivo. É através desse árduo exercício, impingindo constrangimento, consternação,
revolta, etc. que condutas dotadas de empatia e alteridade possam surgir ou serem
fortalecidas.
Recomendo esse exercício de
humanização.