Já me motivei a
escrever no blog de maneiras distintas. Seja a fim de prestar um
reconhecimento, um reverenciamento; seja para denunciar algo ou para
externalizar minhas lamurias. É a primeira vez que me sinto incitado a escrever
vide um sangramento consubstanciado de um ardor persistente. Isso não é uma
metáfora!
Engraçado
constatar que há um padrão quando as coisas arrolam a desandar. Assim que
coloquei o pé pra fora do carro, na orla da Pituba, a chuva fez questão de me
desejar seu “bom dia!” sinalizando que me acompanharia nos próximos 45 minutos
de corrida.
Não costumo ser
competitivo. Apesar de brioso, é difícil, hoje em dia, me aperceber comparando
padrões comportamentais à outrem, muito menos mensura-los. Mas algo se
transforma quando estou correndo. Algo me impele a – toda vez que alguém passa
por mim num ritmo mais forte – acelerar o passo, uma autoprova a fim de gerar
um saciar da incólume necessidade de competir e vencer (?). Estranho conjecturar
isso.
Enfim, como “não
há nada tão ruim que não possa ser piorado”, eis que surge um sujeito num ritmo mais acelerado me passando discretamente. Em períodos pregressos,
daria um jeito de passa-lo e regozijar-me-ia diante da “conquista”. Mas pelo
segundo dia consecutivo tentei fazer algo diferente: “Posso acompanhar seu
ritmo?”. Em ambas às vezes a reação dos corredores foi positiva e a corrida se
desenvolveu tranquilamente. Gostei dessa relação cooperativa. Mesmo vivendo no
ápice do ensimesmamento, constatei que ainda há solidariedade nessa selva de
pedras! Mas nessa ultima teve um tempero
especial. Meu atual parceiro estava treinando para a meia maratona e estava
correndo cerca de 11 kms (!!!). Eu, claro, resolvi acompanha-lo. Divertido
observar seu pragmatismo: dois relógios, um medindo nossa velocidade média: “11,7
kms por hora !!!” , o outro cronometrando o tempo e suas incessantes olhadelas para os
mesmos. Acho que ele despendia mais energia nesse ritual do que na corrida em
si.
A Nike, maior
empresa do ramo de material esportivo, orgulhosa dos seus tênis super high tech
me produz um “running shoes” que
escorrega mais do que quiabo. Quando estou com ele calçado dentro de casa,
sinto-me numa pista de gelo! Chega a ser ridículo despender dolorosos R$ 200,00
(“Preço super promocional!”) num tênis que não consegue proporcionar o básico,
sustentação...
Estávamos
fazendo a volta para finalizar a maior parte do percurso (eu, ele e meu tênis-algoz)
e eis que um corpo, precisamente o joelho e a mão direitas, se estatela no
chão. Na verdade o ensejo foi temperado com requintes de crueldade. O piso é
aquele concreto, repleto de pedrinhas pontiagudas, sadicamente dispostas,
aguardando ansiosamente para saciar-se e fatiar partes dos frágeis corpos
infortunados. Eu, claro! Continuei a correr e com uma risadinha de quem acabou
de se ferrar comentei em voz alta para as mulheres que passavam: “Cuidado! O
piso está escorregadio!”. Correndo com o joelho sangrando e atraindo olhares de
consternação. Depois de mais alguns tortuosos minutos despedi-me do meu
parceiro que, solidário, pediu que eu cuidasse do ferimento.
Encerro esse
relato recordando-me de uma divertida e determinística frase que um amigo e
filosofo do cotidiano costuma utilizar: “Prego nasceu pra ser martelado!”.
Making Off da sessão fotografia:
Lica, Papagaio de Pirata!