sexta-feira, 13 de abril de 2012

Aforismo

Último ano do curso de Psicologia. Hoje, 13 de Abril de 2012, a professora me convidou (e os demais colegas) a criar um aforismo (preceito expresso em forma de sentença breve). Provavelmente me omitiria caso não fosse estimulado pela docente e pelos colegas. Já passavam das 22 horas e a sala estava vazia. Alentou os eventuais comentários, muitas vezes derrisórios a respeito de minhas produções textuais. Creio que muitos associam minha parca erudição a um sentimento de enfatuação. É um caminho possível, mas minha vaidade vem drasticamente diminuindo ao longo do tempo. Não daria esse (de) mérito a ela. Confesso-lhes que sou escravo de meu próprio formalismo literário. Até em conversas informais, seja nas redes sociais, seja através de uma mensagem do celular, ou qualquer situação que eu seja impelido a produzir textualmente, a famigerada e internalizada necessidade de utilizar palavras não muito usuais vem à tona. Antes acreditava piamente que era uma estratégia impressionista, uma maneira pomposa de externalizar um diferencial. Depois percebi claramente que era algo que transcendia a esfera do enamoramento, mesmo porque tenho fortes desconfianças que muitas mulheres se distanciaram temendo que eu fosse um homem que se escondia atrás de um complexo linguajar. Clarificando, um homem portentoso no âmbito do desenhar das palavras, porém muito aquém em se tratando das necessárias manifestações físicas, presenciais. Algumas mulheres me tolheram da possibilidade de um encontro, um tet a tet, através do preconceito de linguagem! É interessante ressaltar, já que esse é a antítese do desprovido. Descobri que o excesso suscita peremptoriedade, pode ser tão limitador quanto à limitação da escrita. Muitas vezes tentei me adaptar, na ânsia de aumentar minhas chances no cortejo. Mas soou cômico demais, pra não dizer estabanado. Senti desconforto e inadaptabilidade. O que fatalmente me gerou algum tipo de crise, um ensimesmamento. A tentativa obsedante de, através das palavras, externalizar, esmiuçar sentimentos e desejos, culminou num ominoso paroxismo.

A misantropia do homem é reflexo do seu ensimesmamento

Voltei ao romantismo do: “Se tiver de ser, terá que ser com todo o pacote de (im) perfeições que possuo”.
Agir de maneira impulsiva me transformou num ser amorfo, destoante de mim mesmo; tolhido de minhas próprias idiossincrasias.

A impulsividade é o incendioso catalisador dos incomensuráveis

Para atenuar tamanha confusão, tive a hombridade de reconhecer que preciso lidar com minha incapacidade de ser alguém que não gostaria de ser! Não consigo e não devo mitigar um desconforto tentando criar um alter ego que destoa sensivelmente de meus referenciais. O saudosismo de uma ensandecida paixão pode ser considerado uma intensa e prazerosa lembrança de um tempo que passou. E por que não acreditar num ressurgimento do mesmo?  

A mitigação do sofrimento é a antítese da paixão ébria

Esse post é graças a uma colega que, na saída da faculdade brincou: “Acho que às vezes você utiliza esses nomes pomposos apenas como uma forma de engodo”. Voltei pra casa com essa “provocação” em mente. Os aforismos criados são esses em negrito e itálico. Lembrei-me do bom velhinho Freud e de seus ensinamentos a respeito da associação livre e tentei encontrar, nessa cabeça repleta de elucubrações, uma explicação para a criação dos mesmos. Se não for essa, talvez seja mais uma forma de engodo, um auto-engodo! 


segunda-feira, 2 de abril de 2012

Roger Waters - The Wall

Ainda sinto o frenesi de umas das experiências mais fenomenais que tive o prazer de experienciar. Estou cansado, quase não dormi de ontem pra hoje, mas inebriado. Não farei um comentário técnico/descritivo, mesmo porque, confesso-lhes, muito do que ouvi a respeito já havia trafegado do consciente para o inconsciente: as letras, a ordem das músicas, as frases de efeito, os detalhes sórdidos. Pensei até em aprimorar meu conhecimento, pesquisar mais a respeito, assistir ao filme novamente para ai sim produzir algo, mas logo percebi que cometeria uma heresia. O que eu vi ontem no estádio do Morumbi, das 19:45 as 22:00, transcende a alcunha “show”, “espetáculo”, “apresentação” e clama por um relato imediato e passional. Os momentos que antecederam ao evento deu pra ter uma ideia de que algo ímpar aconteceria. Pessoas educadas, empolgadas e um clima ameno formavam um ótimo ambiente para o que estava por vir.

Nada mais justo do que expor esse momento da maneira mais impressionista possível. Roger Waters e The Wall são indissociáveis. Um daqueles mágicos momentos em que há perfeita simbiose entre criador e criatura. A qualidade do som, os efeitos especiais, a magnifica produção do muro, o fantoche do professor e os diversos outros elementos são utilizados de maneira sublime, faz-nos imergir num mundo psicodelicamente critico e político. Impressionante saber que uma produção do final da década de 70 adquiriu o imperativo status de anacrônico, de maneira incontestável e de charmosa singularidade. Foi emocionante do inicio ao fim. O intervalo de 15 minutos (entre a primeira e a segunda parte) não quebrou o clima de imersão, na verdade foi providencial! Uma parada no banheiro fez-se mais do que necessária e angustiava o simples pensamento de perder parte do ensejo. Há de mencionar a maneira afetuosa e reverenciosa que Waters tratou os brasileiros: seja homenageando Jean Charles (brasileiro morto na Inglaterra), seja utilizando frases e expressões em português, com a tradução de um trecho emblemático: “Mãe, devo confiar no governo?” e a peremptória resposta: “nem fodendo!”.

Alcei o que vi a uma categoria que transcende a uma apresentação artística, não seria justo comparar com os que virão. Encerro minhas impressões recomendando veementemente aos que puderem, que se permitam passar pela experiência que passei: visceral, insurrecional, incitadora de lutas e resistências a uma sociedade assolapada por uma alienação reificante. Ontem foi a prova cabal do quão enriquecedor pode ser uma experiência audiovisual. Faz-nos lembrar que a criatividade e a criticidade são ferramentas capazes de mudar nossos mundos, mesmo que seja aquele da fantasia, do entorpecimento, do momentâneo.