Quando sou assolado por algo
deveras tortuoso como a morte de um ente próximo, ou próximo dos nossos
próximos, costumo pensar acerca da trivialidade da vida e do quão frágil somos
diante da mais poderosa certeza que nos cerca. A inquietação torna-se maior quando – involuntariamente – estamos
sobre o efeito de uma teleologia mórbida nos questionando quem será o próximo. Duas
coisas normalmente vêm à tona ao imergir nesses pensamentos:
1 – Gostaria de ser o primeiro a perecer,
pois não precisaria passar pelo sofrimento de sentir parte de mim adentrando
numa dimensão desconhecida, sentir o aroma da morte cerceando meu mundo, meus
amigos;
2 – Uma hierarquização dos que
poderão partir antes de mim, o porquê dessas constatações e a pronta certeza
que esse é um exercício prementemente inócuo;
Uma frase, certa vez, me
sensibilizou, convidando-me a pensar diferente. Atacava meu egoísmo de querer
ser o primeiro, da fuga de um necessário sofrimento. A frase dizia que o amor
verdadeiro era aquele que andava de mãos dadas com a abnegação, permitindo a
partida de todos, deixando-te como o responsável à apagar as luzes. A
justificativa tornavam as coisas ainda mais simples: antes eu passando por
todas essas dores do que eles. Os demais não precisariam passar pelo tortuoso
cotidiano da falta, da saudade excruciante...
Senti-me estimulado a flertar com
essas reflexões após ter sido vítima – mais uma vez! - de uma tentativa de
assalto quando retornava a Vitoria da Conquista. Quatro homens em duas motos
surgiram de uma estrada secundária e tentaram incessantemente fazer com que eu
parasse o carro. Depois que vi o semblante de um dos assaltantes da moto que se
encontrava a minha frente, tive a pronta certeza de que faria qualquer coisa,
menos ceder à pressão dos mesmos. A frieza no olhar daquele homem foi o
suficiente para fazer com que eu utilizasse toda pericia automobilística
aprendida a fim de subir os seis quilômetros da serra do marçal – que é
extremamente sinuosa e perigosa – a mais de 100 km/h. Algumas vezes abaixava a
cabeça com receio de ser alvejado por algum projetil. Ao final da serra, já
havia colocado boa distância dos perseguidores, parei no posto da polícia
rodoviária federal e informei do ocorrido. O profissionalismo dos policiais me
chamou atenção: “Por que você não passou por cima deles?!” inquirira uma
policial exaltada; seu parceiro, que me olhava com aparência de que tomaria uma
medida mais producente, simplesmente continuo a me olhar sem balbuciar um som que
fosse. Ouvi comentários de algumas pessoas que estavam sentadas próximas à
guarita exaltando a fuga e resolvi concluir a viagem.
Ciclicamente sou alvo de investidas indigestas como a que
acabei de ilustrar. O que me convida a pensar num desfecho traumático para essa
vida ansiosa de novas conquistas e realizações. Mas prefiro direcionar atentar para as coisas que estão na minha esfera de poder e acreditar
levianamente no comentário gracejado de um amigo “[...] os caras devem achar
que você é um turista japonês indefeso...”.