sexta-feira, 1 de junho de 2012

Filosofia do Cotidiano


Já me motivei a escrever no blog de maneiras distintas. Seja a fim de prestar um reconhecimento, um reverenciamento; seja para denunciar algo ou para externalizar minhas lamurias. É a primeira vez que me sinto incitado a escrever vide um sangramento consubstanciado de um ardor persistente. Isso não é uma metáfora!

Engraçado constatar que há um padrão quando as coisas arrolam a desandar. Assim que coloquei o pé pra fora do carro, na orla da Pituba, a chuva fez questão de me desejar seu “bom dia!” sinalizando que me acompanharia nos próximos 45 minutos de corrida.

Não costumo ser competitivo. Apesar de brioso, é difícil, hoje em dia, me aperceber comparando padrões comportamentais à outrem, muito menos mensura-los. Mas algo se transforma quando estou correndo. Algo me impele a – toda vez que alguém passa por mim num ritmo mais forte – acelerar o passo, uma autoprova a fim de gerar um saciar da incólume necessidade de competir e vencer (?). Estranho conjecturar isso.

Enfim, como “não há nada tão ruim que não possa ser piorado”, eis que surge um sujeito num ritmo mais acelerado me passando discretamente. Em períodos pregressos, daria um jeito de passa-lo e regozijar-me-ia diante da “conquista”. Mas pelo segundo dia consecutivo tentei fazer algo diferente: “Posso acompanhar seu ritmo?”. Em ambas às vezes a reação dos corredores foi positiva e a corrida se desenvolveu tranquilamente. Gostei dessa relação cooperativa. Mesmo vivendo no ápice do ensimesmamento, constatei que ainda há solidariedade nessa selva de pedras!  Mas nessa ultima teve um tempero especial. Meu atual parceiro estava treinando para a meia maratona e estava correndo cerca de 11 kms (!!!). Eu, claro, resolvi acompanha-lo. Divertido observar seu pragmatismo: dois relógios, um medindo nossa velocidade média: “11,7 kms por hora !!!” , o outro cronometrando o tempo e suas incessantes olhadelas para os mesmos. Acho que ele despendia mais energia nesse ritual do que na corrida em si.

A Nike, maior empresa do ramo de material esportivo, orgulhosa dos seus tênis super high tech me produz um “running shoes” que escorrega mais do que quiabo. Quando estou com ele calçado dentro de casa, sinto-me numa pista de gelo! Chega a ser ridículo despender dolorosos R$ 200,00 (“Preço super promocional!”) num tênis que não consegue proporcionar o básico, sustentação...

Estávamos fazendo a volta para finalizar a maior parte do percurso (eu, ele e meu tênis-algoz) e eis que um corpo, precisamente o joelho e a mão direitas, se estatela no chão. Na verdade o ensejo foi temperado com requintes de crueldade. O piso é aquele concreto, repleto de pedrinhas pontiagudas, sadicamente dispostas, aguardando ansiosamente para saciar-se e fatiar partes dos frágeis corpos infortunados. Eu, claro! Continuei a correr e com uma risadinha de quem acabou de se ferrar comentei em voz alta para as mulheres que passavam: “Cuidado! O piso está escorregadio!”. Correndo com o joelho sangrando e atraindo olhares de consternação. Depois de mais alguns tortuosos minutos despedi-me do meu parceiro que, solidário, pediu que eu cuidasse do ferimento.

Encerro esse relato recordando-me de uma divertida e determinística frase que um amigo e filosofo do cotidiano costuma utilizar: “Prego nasceu pra ser martelado!”.


Making Off da sessão fotografia: 

 
Lica, Papagaio de Pirata!


Nenhum comentário:

Postar um comentário