segunda-feira, 2 de abril de 2012

Roger Waters - The Wall

Ainda sinto o frenesi de umas das experiências mais fenomenais que tive o prazer de experienciar. Estou cansado, quase não dormi de ontem pra hoje, mas inebriado. Não farei um comentário técnico/descritivo, mesmo porque, confesso-lhes, muito do que ouvi a respeito já havia trafegado do consciente para o inconsciente: as letras, a ordem das músicas, as frases de efeito, os detalhes sórdidos. Pensei até em aprimorar meu conhecimento, pesquisar mais a respeito, assistir ao filme novamente para ai sim produzir algo, mas logo percebi que cometeria uma heresia. O que eu vi ontem no estádio do Morumbi, das 19:45 as 22:00, transcende a alcunha “show”, “espetáculo”, “apresentação” e clama por um relato imediato e passional. Os momentos que antecederam ao evento deu pra ter uma ideia de que algo ímpar aconteceria. Pessoas educadas, empolgadas e um clima ameno formavam um ótimo ambiente para o que estava por vir.

Nada mais justo do que expor esse momento da maneira mais impressionista possível. Roger Waters e The Wall são indissociáveis. Um daqueles mágicos momentos em que há perfeita simbiose entre criador e criatura. A qualidade do som, os efeitos especiais, a magnifica produção do muro, o fantoche do professor e os diversos outros elementos são utilizados de maneira sublime, faz-nos imergir num mundo psicodelicamente critico e político. Impressionante saber que uma produção do final da década de 70 adquiriu o imperativo status de anacrônico, de maneira incontestável e de charmosa singularidade. Foi emocionante do inicio ao fim. O intervalo de 15 minutos (entre a primeira e a segunda parte) não quebrou o clima de imersão, na verdade foi providencial! Uma parada no banheiro fez-se mais do que necessária e angustiava o simples pensamento de perder parte do ensejo. Há de mencionar a maneira afetuosa e reverenciosa que Waters tratou os brasileiros: seja homenageando Jean Charles (brasileiro morto na Inglaterra), seja utilizando frases e expressões em português, com a tradução de um trecho emblemático: “Mãe, devo confiar no governo?” e a peremptória resposta: “nem fodendo!”.

Alcei o que vi a uma categoria que transcende a uma apresentação artística, não seria justo comparar com os que virão. Encerro minhas impressões recomendando veementemente aos que puderem, que se permitam passar pela experiência que passei: visceral, insurrecional, incitadora de lutas e resistências a uma sociedade assolapada por uma alienação reificante. Ontem foi a prova cabal do quão enriquecedor pode ser uma experiência audiovisual. Faz-nos lembrar que a criatividade e a criticidade são ferramentas capazes de mudar nossos mundos, mesmo que seja aquele da fantasia, do entorpecimento, do momentâneo.

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